Dias desses, enquanto conversava com um amigo, recordei uma lembrança reprimida, escondida desde a época que aconteceu. Uma parte do meu passado que não gosto de lembrar, mas que devo aceitar, pois já aconteceu, e que ninguém poderá mudar.
Na época, eu cursava a 6° Série, um ano inesquecível, escolhida por certo tempo como o melhor ano da minha vida. Estava equivocado. Foi um ano inesquecível não pelas amizades que eu tive (e que consequentemente acabaram com o fim do ano, pois mudei de colégio), mas pelos traumas que sofri.
*OBS: Trauma é uma palavra muito forte, mas define com clareza as feridas que ficaram.
Certo dia, quando cheguei na sala de aula (sempre cheguei tarde) vi uma alvoroço anormal, e percebi que todos estavam com um papel branco na mão. Não liguei e me sentei na última cadeira da última fila ( sempre sentava com os CDFs e os babacas da turma, talvez por ter sido um, não sei).
Um pouco antes de "bater a campa" (hora do intervalo), me senti incomodado com os sussurros que de vez em quando apareciam , até que perguntei para um moleque que estava no meu lado (eu não me lembro quem):
- O que está acontecendo? Por que todo mundo está conversando tanto?
- Você não sabe ? Nesse fim de semana vai acontecer a festa de aniversário da _________ , e praticamente toda a sala foi convidada.
- Hum. Eu não to sabendo...
- Você não recebe o convite ?
- Não, é que eu...
- Então vai pegar, até eu já recebi o meu.
E, com toda a convicção de que a _________ tinha me esquecido, fui até ela e perguntei:
- Ei ___________ , é sério que tu vai fazer uma festa ?
- Eu... errrr, sim.
- E você não vai me convidar ? Eu estudo com você desde o maternal, não é justo que...
- Você não recebeu ? Eu dei pra "Fulana" porquê não te achei.
- Sério? Rapidin, que eu vou falar com ela.
(Passagem rápida de tempo)
- Errr... __________ , a "Fulana" não sabe do que você falando.
- Errr... Você quer ir mesmo ?
- Todo mundo vai.
- Tá, então toma esse endereço, meu apartamento fica no bla.. blá..blá
E lá fui eu para minha primeira festa que não seja de um parente.
O apartamento dela era impecável, ficava na cobertura de um prédio de um bairro nobre daqui de Belém. Era espaçoso, a própria sala deveria ser do tamanho do meu apartamento, e era ali que os adultos ficavam. Os "pré-adolescentes" (um dia vou inventar uma palavra melhor) ficavam no quarto gigantesco que deveria ser a mãe da aniversariante, ou uma outra sala; de qualquer forma, até a sacada era 2x maior que a minha.
O ambiente estava escuro, tinha um sofá no canto e um espaço grande para dançar; e como eu amo dançar, fui para sacada e me sentei numa cadeira segurando um copo de coca-cola numa mão e um cigarro na outra, enquanto habilidosamente expelia círculos de fumaça com a boca. (iuaheiuaheiauheiaueha, mentira pessoal, eu não fumo, só quis colocar isso para melhorar o clima, tá muito chato essa história)
Depois de uns 5 copos, fui falar com a _________ para perguntar onde era o banheiro, quando de repente, a própria chega comigo e fala:
- Leo, vem cá. - e me puxa para dentro da sala/quarto, me colocando no meio da galera, mas ninguém ligou - Fica aqui, não me mexe, tenho uma surpresa para ti. - Huh... Muitas coisas passaram pela minha cabeça naquela hora, será que era agora que as meninas iriam tirar a roupa e pular em cima de mim, ou que a _________ iria se declarar abertamente todo o amor por yo?
Ela foi até o som, e falou em um tom alto para todos escutarem:
- Eu quero oferecer essa música para Leonardo Lobo, um grande colega. - Eu sabia, ela me amava.
Então, a música começou seguido de risos, muitos risos e dedos, sim, dedos apontando para minha cara de bobo, que ficou ali parado enquanto tocava "Robocop Gay" naquele som escroto.
Queria que minha primeira reação fosse bater em todo mundo "a lá MATRIX", mas como não sou assim, peguei mais um copo de coca, fui para a sacada, subi no parapeito, bebi aquilo que deveria ser minha última fonte de prazer, e me joguei... e estou caindo até hoje.
Leonardo Lobo